Página Inicial / homepage  -   Entre no fórum/participe
"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina"

terça-feira, 20 de março de 2012

Caça de Subsistência no baixo Tapajós

Barco regional às margens do Rio Tapajós, na Floresta Nacional do Tapajós, próximo a foz do Amazonas, em Santarém, nos preparativos para proteção da tempestade de verão que se aproxima.

O relato a seguir foi obtido em maio de 2000, com um ex-caçador de subsistência, atual morador da Comunidade de Jauarituba, antigo morador da Comunidade de Muratuba, atualmente incorporada à Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns.

Antônio de Oliveira, 62 anos, conhecido por Mucura, na foto com duas netinhas, foi caçador por 15 anos, prática abandonada a pedido da mãe depois de ter sido picado por uma cobra surucucu, que o benzeu e curou, passando a viver só da pesca. Quando caçador, alimentava a família constituída da esposa e três dos seis filhos que teve (cinco mulheres e um homem).

De fala mansa e aparentando não ter pressa nenhuma, Mucura tem um arsenal de causos e histórias que se mesclam num verdadeiro painel da vida cabocla, onde a fronteira entre a verdade e a invenção é um mero detalhe.

Caça Comunitária, de subsistência

A caça comunitária é prática regular nas comunidades amazônicas e, em geral, é praticada por dois ou três caçadores, no máximo cinco. Pode acontecer de o caçador ir à caça sozinho. As caçadas, duas por semana, duram em média um dia ou uma noite, mas em certas ocasiões duram a semana inteira, de segunda a sábado.

Independentemente do número de participantes, a caça sempre é repartida entre parentes, amigos e vizinhos em porções chamadas de putaua, que corresponde a três ou quatro quilos de caça, suficientes para provisionar por um dia uma família de seis a oito pessoas ou para um bom assado com amigos.

Tipos de caçada

A caçada em geral é feita à noite e de “espera”, em rede armada em galhos de árvores, com altura adequada ao tipo da caça: a partir de dois metros do solo (paca, tatu) e podendo atingir até dez metros, para animais de faro apurado (anta, veado). Outras vezes, a caçada é feita durante o dia, na trilha dos animais ou com cachorros farejadores.

Quando a caçada é feita na época das chuvas (“inverno”) ou se vai durar alguns dias, os caçadores preparam um abrigo chamado tapiri, coberto com palha de palmeira curuá ou inajá.

A tralha

A arma usada, em geral, é a cartucheira calibre 20, mortal a 20 ou 30 metros, com cartuchos normalmente recarregados pelo próprio caçador com bagos de chumbo de tamanho proporcional ao porte da caça. Dependendo do tempo que se vai passar caçando, fazem parte da tralha a faca e/ou facão (terçado), o suqui (sacola de pano amarrada no ombro à moda bandoleira), fósforos, lanterna, sal, pimenta, limão, rede e mosquiteiro.

A bóia

Antes de caçar, em geral a bóia é fraca. O caçador leva farinha, com a qual, misturada com água que obtém em igarapés ou cipós na mata, prepara o chibé. Este tem uma versão “luxo” com adição de sal, pimenta e limão, chamada de cação. Após caçar, o caçador prepara o salmorado, que consiste em salgar a carne em peças para conservar.

Após a salga no paneiro (cesto de tala de palmeira de trançado largo, geralmente forrado de folhas, usado para carregar mercadorias - farinha, frutas, etc., também considerado como padrão de medida) a peça de carne é enrolada com folhas (caponga, caxirica ou cacauda-mata) e em seguida é enterrada para evitar moscas-varejeiras.

Outra forma de conservar a carne da caça é fazendo um muquiado, que consiste em assar a carne, depois de limpa, por duas ou três horas, no muquém (espeto) ao calor de brasas (o fogo é feito ao lado e brasas são arrastadas para debaixo do muquém).

A carne não consumida pode ser guardada por até uma semana desde que seja aquecida todo dia, caso contrário apodrece.

Caça, trabalho pesado

Conta Mucura que, certa vez, ele e o cunhado, com a ajuda de quatro cachorros, abateram oito caititus. As carcaças, depois de limpas da barrigada, foram carregadas para casa numa distância de mais de oito quilômetros, em caminhada de quase seis horas. As cargas, pesando uns 80 quilos por homem, foram carregadas no cipoapara, espécie de amarrado de cipós que se apóia na cabeça e nas costas.


»»---------(Bushcraft Minas)------>

Texto e Foto - Reprodução

Fonte: www.ecobrasil.org.br/

Seguir no Twitter Siga Bushcraft Minas no Twitter
Deixe seu comentário

Nenhum comentário:

Postar um comentário