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"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina"

domingo, 11 de março de 2012

Transposição De Obstáculos

4-13. GENERALIDADES

É aconselhável deslocar-se na selva:

a. Quando se conhece a região em que se encontra; para isto, deve-se ter a mais absoluta certeza de que o estado físico e de saúde do pessoal o permite e, assim mesmo, deixando no local nota que informe as intenções e a direção de marcha.

b. Quando, após contato com o escalão superior, são informados a posição, direção a seguir, distância e ponto de destino que poderão facilitar o resgate ou suprimento aéreo. Nesses casos o combatente tem de estar apto a transpor obstáculos que a selva lhe oferece.

4-14. UTILIZAÇÃO DE CORDAS

a. Rapel em “S” (Fig 4-11) - A figura explica o processo, porém há necessidade de chamar atenção para certos detalhes:

(1) a posição inicial para a descida é a que consta do desenho "A";

(2) a mão esquerda não fará força, apenas auxiliará o equilíbrio e manterá as duas seções da corda juntas;

(3) o máximo apoio do corpo será feito pela parte que “monta” na corda;

(4) as pernas deverão permanecer semi-esticadas durante a descida;

(5) a frente do corpo deverá ficar voltada para cima, evitando que, olhando para baixo, o homem se impressione com a altura;

(6) a corda não será amarrada no alto da barreira, mas deverá envolver um tronco, sem nós, de modo a possibilitar o seu recolhimento por simples tração de uma das seções, após o último homem descer;

(7) para realizar o movimento de descida, bastará que a mão direita vá recolhendo a parte da corda que fica livre, embaixo, e “dando corda” ao peso do corpo, ao mesmo tempo que, evitando saltos o indivíduo caminhará, “descendo”, na superfície inclinada; e

(8) caso seja necessário fazer uma parada durante a descida, bastará que o braço direito seja cruzado sobre o peito, na direção do ombro esquerdo, sem largar a corda; nesta posição, haverá absoluta segurança e liberdade para movimentar o braço esquerdo, o qual, se for preciso, poderá até largar a corda.

Fig 4-11. Rapel

b. Pontes de Corda - As principais pontes de corda são de 3 tipos, de 1, de 2 e de 3 cordas.

(1) Ponte de uma corda (Fig 4-12) - Uma extremidade será amarrada em um tronco de árvore, na margem em que se estiver, enquanto a outra será levada para a margem oposta e amarrada a outro tronco. Essas amarrações (ancoragem) terão de ser bem feitas e de modo a permitir “dar tensão” à ponte, uma vez que o uso tenderá a afrouxar a corda. Mais adiante serão mostrados quais os nós empregados para as ancoragens. Dois são os processos para se atravessar:

(a) ”comando-craw” - A figura é explicativa: a perna caída serve para dar o equilíbrio; a tração do corpo será feita pelas mãos, ajudadas pelo pé que está sobre a corda. É, no caso, o processo mais aconselhável, pois é menos cansativo. Se o equilíbrio foi perdido e o corpo ficar dependurado, será muito difícil retornar à posição primitiva; o melhor, se bem que mais cansativo, será prosseguir pelo processo da preguiça.

(b) preguiça - O homem ficará pendurado pelas mãos e pernas, com a cabeça voltada para a direção do deslocamento. Por movimentos coordenados e compassados irá realizando a tração do corpo.

Fig 4-12. Ponte de 1(uma) corda

(2) Ponte de duas cordas (Fig 4-13) - Este tipo não é mais do que o anterior, com uma segunda corda ancorada acima da outra, de modo que a distância entre elas, nos pontos de ancoragem, seja de 1,20 a 1,30 metros, mais ou menos. O processo para o deslocamento tem a posição inicial mostrada na figura; daí, bastará ir deslizando mãos e pés, ao mesmo tempo, na direção da marcha. O balanceamento característico resultante de tal travessia deu ao processo o nome já consagrado de “falsa baiana”, o qual, por extensão, serve também para designar este tipo de ponte.

Fig 4-13. Ponte de 2(duas) cordas (falsa baiana)

(3) Ponte de três cordas (Fig 4-14) - É construída com duas cordas ancoradas à mesma altura, e uma terceira abaixo das duas cerca de 1,50 m, aproximadamente. As cordas superiores são ligadas à inferior por um trançado de cordas finas, as quais servirão como reforço e proteção lateral. As cordas de cima serão usadas como corrimão e a de baixo, como piso. Para realizar a travessia bastará “andar” sobre o piso, ao mesmo tempo que cada mão segurará um corrimão, de modo a possibilitar o equilíbrio por meio de afastamentos e aproximações das duas cordas superiores.

Fig 4-14. Ponte de 3(três) cordas

c. Cordas e Nós - Uma corda tem três componentes: fibras, fios e cordões. Os fios são feitos por trançado das fibras, os cordões por trançado de fios e a corda por traçado dos cordões. Uma corda toma o nome de acordo com o da fibra componente. Assim, há cordas de fibra sintética de “nylon” ou de “perlon” e cordas de fibra vegetal, tais como: de manilha, de sisal, de cânhamo, de algodão etc. As de melhor emprego na selva são as de “nylon” e manilha, pois são mais duráveis. As de “perlon” são as que proporcionam maior conforto e facilidade para emprego devido as suas características de flexibilidade, maneabilidade e reduzido peso quando estão secas. Todo homem deverá possuir em seu equipamento um pedaço de corda, pois serão múltiplas as suas utilidades. As de “nylon” têm a vantagem de serem leves, de não encharcarem com água e de serem de mais fácil manutenção, e a desvantagem de, se usadas em grande extensão, podem ceder em sua extensão comprometendo a segurança. Por isso, nas construções das pontes de corda são mais empregadas as de manilha. As extremidades de uma corda são chamadas chicotes. Normalmente, no uso das cordas, haverá necessidade de dar nós, quer para ancoragem, quer para emendas, quer para outros fins. E como não se disporá na selva de facilidades para obtê-las, será sempre interessante recuperá-las após o uso; daí a vantagem de saber dar nós que possibilitarão tal recuperação.

Os tipos de nós mais utilizados na selva são os seguintes: direito, escota e de porco. Esses e outros úteis serão explicados a seguir:

(1) Nó direito (Fig 4-15) - Para unir cordas do mesmo diâmetro.

Fíg 4-15. Nó direito

(2) Nó de escota (Fig 4-16 e 4-17) - Para unir cordas molhadas e cordas de diâmetros diferentes.

Fig 4-16. Nó de escota (para cordas molhadas)

Fig 4-17. Nós de escota (para cordas de diâmetro diferentes)

(3) Nó de porco ou de barqueiro (Fig 4-18) - Para ancoragem, isto é, amarrar o chicote da corda a uma árvore, normalmente.

Fig 4-18. Nó de porco ou de barqueiro (para ancoragem)

(4) Nó de uma volta completa com dois cotes (dois meios nós) (Fig 4- 19) - Com a mesma finalidade do anterior.

Fig 4-19. Nó de uma volta completa com dois cotes (para ancoragem)

(5) Nó de lais de guia (Fig 4-20) - Para fazer uma alça que não apertará e nem deslizará, permitindo ser desatado facilmente; servirá para alçar ou descer material pesado, inclusive homens;

Fig 4-20. Nó de lais de guia

(6) Nó borboleta (Fig 4-21) - Para permitir dar tensão a uma corda (caso das pontes), a fim de facilitar o afrouxamento. Bastará colocar um pedaço de pau nas duas voltas (asas da borboleta) antes de apertar.

Fig 4-21. Nó borboleta

(7) Nó prússico (Fig 4-22) - Para esticar uma corda já ancorada pelos dois chicotes, para servir de amarração das cordas de tração, para servir de freio, quando aplicado na corda de sustentação no caso de descida, e em várias outras aplicações.

Fig 4-22. Nó prússico

4-15. MEIOS IMPROVISADOS DE FLUTUAÇÃO Em áreas de selva, é um fato comum serem encontrados em nossos itinerários obstáculos constituídos por cursos de água. Normalmente, não apresentam larguras que impeçam a travessia utilizando material que a própria selva ou o equipamento proporciona. Alguns processos, fácil e rapidamente, poderão ser empregados com uma grande margem de segurança: a. Ponte Improvisada (Fig 4-23) - Quando o curso de água tiver pequenas proporções (igarapés não vadeáveis), com largura de até 30 metros, poderá ser abatida uma árvore em sua margem, de tal forma que, quando caia, cruze o igarapé na sua largura. É necessário que se complete o trabalho fazendo um corrimão de cipó ou galhos, para que a travessia seja feita em segurança. É um processo simples no qual a perda de tempo no abate da árvore é plenamente recompensado pelas segurança e rapidez da ultrapassagem.

Fig 4-23. Ponte improvisada

b. Cabo Submerso - Constitui uma variante da ponte de uma corda. Um dos elementos do grupo, bom nadador, faz o lançamento do cabo na superfície de igarapés de largura média e que não dão vau. O cabo submerso apresenta a vantagem de rapidez no lançamento e na ultrapassagem, além de poupar energias do grupo.

c. Bóia de Talo de Buriti (Fig 4-24 e 4-25) - Permite excelente flutuação e é de material fartamente encontrado na selva. Os talos são cortados na quantidade que permita envolver o tronco do combatente.

Fig 4-24. Bóia de talo de buriti (pronta para ser utilizada)

Fig 4-25. Bóia de talo de buriti (flutuando)

d. Bóia Improvisada de Calças - Cumpre a finalidade de ajudar um elemento completamente desequipado, na travessia de percurso até 300 metros, ou mais, se o indivíduo possuir descontração bastante para reinflar as pernas da calça, soprando por baixo. O procedimento é o seguinte:

(1) amarrar as pernas da calça e espalhar a argila molhada (barro) na superfície;

(2) virar a calça pelo avesso;

(3) para a entrada na água, proceder de acordo com as Fig 4-26, 4-27 e 4-28; e

(4) fechar a boca da calça com uma das mãos.

Fig 4-26. Preparando para atirar-se na água

Fig 4-27. Atirando-se na água...

Fig 4-28. ...com a bóia de calça inflada (flutuando)

e. Bóia Improvisada com Folhas e Ponchos - Excelente recurso para travessias longas de pessoal e material. Para isso:

(1) colocar estendido no chão um poncho em boas condições de vedação com capuz amarrado de forma a não permitir entrada de água;

(2) juntar grande quantidade de folhas de tal forma que encha completamente um poncho mantendo as armações sempre na diagonal (Fig 4-29);

(3) envolver o primeiro poncho com um segundo poncho, visando-se dessa maneira aumentar a vedabilidade (Fig 4-30);

(4) o material poderá ser posto em cima da bóia bem amarrado, ou dentro do fardo junto com as folhas, sendo a primeira linha de ação mais segura; e

(5) prender um cantil vazio, à guisa de bóia de sinalização, com um cordel comprido (5 metros), para facilitar o resgate, caso a bóia vá ao fundo (Fig 4-31).

Fig 4-29. Folhas cortadas para enchimento da bóia

Fig 4-30. Primeiro poncho pronto para ser envolvido

Fig 4-31. Bóia flutuando com material em cima

f. Bóia Improvisada com Cantis - Processo simples permitindo ótima flutuação. Reúnem-se todos os cantis da patrulha (cerca de 8 ou 9), prendendoos no cinto de guarnição (Fig 4-32 e 4-33).

Fig 4-32. Cantis presos ao cinto

Fig 4-33. Flutuando

g. Jangada - Embora de construção demorada e trabalhosa, é o único processo para se efetuar longos percursos com recursos improvisados. É necessário que se tenha cuidado com os paus, pois a característica principal que devem apresentar é a ótima flutuabilidade. Para selecionar a madeira para a construção da balsa o teste será o de “flutuação”. Retiram-se dos troncos, antes de perder tempo em derrubá-los, pequenos pedaços que serão jogados n’ água; se flutuarem, será sinal de que o tronco também boiará. A jangada, com 10 toros de 6 metros de comprimento por 30 cm de diâmetro, permite a um grupo de 7 homens navegar durante dias com todo seu equipamento. (Fig 4-34, 4-35 e 4-36).

Fig 4-34. Jangada (apenas para mostrar a construção; necessitará de mais troncos transversais)

Fig 4-35. Tipo de jangada (detalhes da montagem)

Fig 4-36. Jangada em condições de navegar

Texto e Foto - Reprodução

Fonte: Web

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