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"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina"

sábado, 10 de março de 2012

Técnicas de sobrevivência na selva – Orientação e Navegação

O emprego de equipamentos tipo GPS em mata densa acima é fortemente degradado pela copa das árvores. Outras técnicas são necessárias.

Nos dias atuais o emprego de equipamentos portáteis, que funcionam como receptores de sinais enviados por satélites, permitem uma localização e uma navegação bastante precisa. Estes sistemas, conhecidos como GNSS (Global Navigation Satellite Systems), encontram-se bastante difundidos por todo o planeta e sua aquisição é possível até por civis.

No entanto, por mais que o acesso à aquisição dos receptores seja fácil (podem ser encontrados em diversas lojas), é importante notar alguns pontos negativos do uso destes sistemas.

Em primeiro lugar o GNSS mais difundido no mundo, em especial no Ocidente, é o sistema norte-americano NAVSTAR-GPS (Global Positioning System). Os norte-americanos permitem o uso do seu sistema de satélite e não cobram dos usuários dos receptores por isso. Mas por serem os “donos” de todo o sistema, eles podem bloquear o sinal quando assim for necessário e conveniente.

Satélites também são vulneráveis a ataques espaciais e colisões com objetos em órbita. A interrupção do funcionamento de um ou mais satélites degrada a qualidade do dado de localização, podendo até inviabilizar o seu emprego.

Por último, e talvez o mais importante para o tema desta série, o emprego de receptores de equipamentos GNSS possuem baixa qualidade de recepção em locais onde a mata é fechada ou possui copa das árvores bastante densa. Não é difícil de comprovar isto. Basta apenas pegar um equipamento receptor e levá-lo para um bosque ou uma praça onde há densa cobertura vegetal.

Pelas razões levantadas acima, e por outras que não cabem aqui, a localização e a navegação em ambiente de selva necessita de outros instrumentos e outras técnicas. O aprendizado e o emprego destas técnicas é um capítulo de grande relevância nos cursos de sobrevivência na selva como o CIGS (Centro de Instrução e Guerra na Selva) do Exército Brasileiro.

Orienteção com o emprego de um relógio de ponteiros

Quando a palavra orientação é mencionada, uma das primeiras palavras que surgem à nossa cabeça é “bússola”. Porém, nem sempre temos uma bússola disponível, a mesma pode quebrar ou o indivíduo pode não deter os conhecimentos necessários para operá-la corretamente (veremos em outra oportunidade o emprego correto da bússola).

Por diversas razões na nossa vida cotidiana é sempre importante utilizar um relógio de pulso. Para aqueles que vão atuar em ambiente de selva, este acessório é mais do que necessário. Veremos a seguir como utilizar um relógio para orientação.

Um bom relógio para ser utilizado na selva deve ser resistente a choques e quedas e a prova de água. Existe uma discussão quanto ao emprego de relógios com pulseira metálica. Ele pode ser útil ou agir contra o seu usuário, dependendo do objetivo da missão. Uma pulseira metálica pode ser válida no caso de sobreviventes de um acidente aeronáutico por exemplo. A pulseira pode refletir os raios do sol e facilitar a identificarão dos sobreviventes. Por outro lado, em uma missão de infiltração, a pulseira metálica poderá delatar a localização do combatente.

No entanto, a característica mais importante de um relógio de pulso na questão da orientação é que o mesmo precisa ser do tipo com ponteiros e não digital. Em relação à divisão interna não haverá diferença se a graduação é a cada hora ou a cada três horas.

Para o emprego desta técnica de orientação, além do relógio, é importante que o Sol esteja visível (outras técnicas sem o emprego do Sol serão abordadas posteriormente). Com o Sol visível, basta segurar o relógio horizontalmente, apontado o número 12 para o mesmo (veja o desenho acima). Mantenha o relógio nesta posição e agora veja onde está o ponteiro das horas (ponteiro menor). A metade do menor ângulo (em outras palavras, a bissetriz interna) entre o 12 e o ponteiro das horas apontará para o Norte verdadeiro ou norte geográfico.

No entanto, o exemplo acima é válido somente para o Hemisfério Sul, onde está inserida a grande maioria do território brasileiro. Para o Hemisfério Norte, onde se encontra parte dos estados do Amapá, Roraima, Pará e Amazonas, vale outra regra. A metade do menor ângulo entre o 12 e o ponteiro das horas marcará a direção Sul.

Fica evidente que este método também é mais fácil de ser empregado quanto mais nos afastamos do Sol de meio-dia, quando o mesmo formará uma linha vertical (ou próximo dela) com a Terra dependendo da Latitude e da estação do ano.

O emprego da bússola

A bússola é uma ferramenta básica de navegação e orientação. Constitui-se basicamente em uma agulha contendo uma ponta magnética que se alinha com o campo magnético terrestre. Existem relatos de emprego de imãs pelos chineses por volta de 2.00 a.C., mas foram os navegadores europeus que fizeram grande uso deste equipamento no Século XV, a partir do conhecimento técnico passado pelos árabes.

Foi dito acima que a agulha imantada da bússola alinha-se com o campo magnético terrestre, mas o que é isso? O plante Terra é, na verdade, semelhante a um grande imã com dois pólos magnéticos (Norte e Sul). A questão principal é de que os pólos magnéticos da Terra não necessariamente se alinham com os pólos geográficos. Portanto, existe uma diferença angular entre ambos conhecida como declinação magnética.

Seria simples assim, não fosse o fato do campo magnético terrestre sofrer variações de região para região e de se alterar com o tempo. Portanto, uma boa bússola deve possuir mecanismos que permitam ao operador o ajuste da declinação magnética. Também cabe ao operador da bússola ter, pelo menos, noção da declinação magnética do local que está.

O mapa acima é um exemplo de carta de declinação magnética. Pelo apresentado no mapa a diferença entre um ponto próximo de João Pessoa (PB) e outro no extremo sul do Brasil chega a 30º.

Em navegações precisas e de longa distância (por exemplo aeronáutica) existe mais um item que deve ser observado. Trata-se da desvio bússola (DB), intrí­nseco de cada equipamento. Este item não possui muita influência para tropas terrestres.

Deve-se sempre estar atento à presença de metais ou equipamentos magnéticos que podem alterar a leitura da bússola. Existem até regiões com grandes depósitos de minerais metálicos (Carajás por exemplo) onde o emprego dela é desaconselhado. Por este motivo é sempre aconselhável estimar as orientações utilizando-se mais de um método.

Exemplo de uma bússola de boa qualidade dotada de vários recursos.

Observação direta do Sol

Em dois “exemplos” acima foram mostradas técnicas de orientação com o emprego de algum equipamento, no caso relógio de ponteiros e bússola. Mas mesmo que um determinado indivíduo não possua absolutamente nada, ele ainda pode se orientar de forma bastante razoável utilizado apenas o seu conhecimento.

Na selva, ou mesmo em qualquer outro ambiente hostil à fixação do homem moderno, a observação dos elementos naturais e o emprego da natureza em auxílio próprio é basicamente a sua principal forma de sobrevivência.

A utilização dos astros para orientação é uma medida relativamente simples e de fácil emprego. Um dos astros mais utilizados é o Sol e, por esse motivo, bastante empregado. Abaixo serão apresentadas algumas técnicas de orientação e navegação com o auxílio do Sol.

Direção obtiva através do Sol do meio-dia

Com o auxílio de um galho ou de um pedaço de pau (por experiência própria digo que alguns gomos de bambu fino com menos de um metro de altura são excelentes para este caso), crava-se no solo uma estaca (pode-se usar uma pedra ou um outro pedaço de madeira para servir como marreta).

Dê prioridade a um local de insolação constante. O terreno não precisa ser totalmente plano e a estaca não precisa estar necessariamente perpendicular ao solo, embora seja preverível que a mesma esteja aprumada.

De tempos em tempos risca-se a sombra da estaca no solo (quando maior a estaca melhor a resolução das sombras). Após algumas medidas, será possível observar que a sombra da estaca diminui com o passar do dia (obviamente se as leituras começarem pela parta da manhã), chegando -se ao mínimo ao meio-dia. Depois a sombra cresce novamente.

A linha de sombra mais curta, como é de se esperar, indicará o horário (meio-dia). Mas esta mesma linha também informará o meridiano local que, em outras palavras, representa a linha norte-sul.

Uma vez identificada a linha norte-sul, basta agora saber o rumo. Neste caso, a primeira informação importante a saber é a latitude aproximada em que a pessoa está. Quanto maior a latitude, mais fácil fica de saber. Na porção sul do Brasil, por exemplo, a sombra do meio dia aponta sempre para o Sul. Conforme caminhamos em direção à linha do Equador esta situação pode variar, podendo a sombra situar-se tanto ao norte como ao sul dependendo da data e da posição do indivíduo.

Direção obtida através do nascer e do por do Sol

As crianças aprendem desde cedo que estendendo o braço direito para onde o Sol nasce teremos o Norte na nossa frente e os demais pontos cardeais a partir dele (Oeste no braço esquerdo e Sul nas costas).

Esta é uma verdade relativa que, dependendo do caso, pode levar a erros graves de navegação e orientação. Somente para ilustrar este fato, toma-se como exemplo a cidade de Porto Alegre, situada próxima ao paralelo 30ºS. Em janeiro o Norte geográfico estará a aproximadamente 117º do ponto onde nasce o Sol (e não 90º como um aluno do primário imagina) e em junho o Norte estará a aproximadamente 63º do nascer. Neste caso existe uma diferença de 54º, o que é quase o dobro da leitura feita no inverno. Mesmo para aquele observador que estiver na linha do Equador (como a cidade de Macapá) a diferença é significativa.

Portanto, a partir do exposto acima é possível observar que a determinação da direção por este método varia em função de dois fatores principais: latitude e calendário anual.

Para uma uma determinação mais precisa usa-se uma tabela de correção que relaciona estes dois fatores (latitude e dia do ano). Na prática dificilmente um indivíduo terá esta tabela na mão quando estiver em ambiente hostil. Então vale a seguinte regra: de meados de outubro até próximo do final de março o Norte verdadeiro estará um pouco para a esquerda do observador (considerando que o mesmo está com o braço esquerdo apontado para o nascer do Sol e olhando para frente). Entre o final de março e o final de setembro o Norte estará um pouco para a direita do observador.

Texto e Foto - Reprodução

Fonte: www.forte.jor.br

Fonte: Web

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