Nós
Porque náutica
tem que saber...
Náutica sem nós, parece incompleto. Então aí
vai, mas...
O que é
um nó?
Nó é aquilo que acontece na cabeça de quem aprende a
dar nós, mas não os utiliza com freqüência.
É como aprender a dirigir carro, e logo depois passar meses sem dirigir
novamente. Esquece.
Lição
número 1: Atando as corda
Antes de aprender a dar
nós, saiba que em um barco não se chama uma corda simplesmente
de corda.
Não existe corda em um barco! Um barco só tem cabos.
Aquelas cordas que V. vê
por todos os lados em um veleiro, não são cordas. São
cabos.
Quando alguém fala "naquela corda ali", já se entregou:
é marinheiro de primeira viagem. E como soa mal...
Três exceções: Corda do sino, do relógio e a de
enforcar quem chamar um cabo de corda.
Cometa erros gramaticais.
Até pode esquecer os plural tudo. O comandante vai entender... Mas,
pelamordedeus, não chame um cabo de corda. Soa muuuuuito mal. Pior
que esses erro tudo.
Obs.: os erros gramaticais dos outros itens não são
propositais ;)
E mais uma: não se
ata um cabo. Os cabos são amarrados.
Por que
V. quer aprender a dar nós?
Opção 1 - Você "não
é do ramo" e quer dar uma boa impressão quando for velejar
no barco de um amigo: aprenda o Lais de Guia e a Volta Falida (nos desenhos
abaixo chamada de "nó em 8").
O Lais de guia é
o nó mais utilizado em um veleiro. A Volta Falida serve para amarrar
o barco ao trapiche, ou mais especificamente, para fixar a amarra (cabo) ao
cunho ("aquela peça" sobre o convés - veja o desenho).
Opção
2 - Passatempo: comece pela falcaça.
É um trabalho de comandante meticuloso, pra não dizer chato.
Leva-se um certo tempo para deixá-la bem parelha.
A extremidade dos cabos
tende a desfiar. A falcaça é a maneira mais nobre de evitar
o problema. Mais tradicional ou chique.
Mas há outras maneiras:
se o cabo for de nylon (qq material sintético), coloca-se sobre o fogo
(isqueiro ou fogão). Se V. não tiver paciência de ficar
mantendo-o um pouco longe do fogo, vai ficar preto na ponta. Pode-se também
empapar a extremidade de um cabo de nylon com álcool e tocar fogo.
E pode-se também
simplesmente enrolar um esparadrapo na ponta do cabo. Ou enrolar um esparadrapo
largo, bem esticado, e cortar um pedaço (1cm) do cabo fora, deixando
a ponta "bem reta".
E tem ainda o tal do shrinkable.
É um tubo (mangueirinha) de plástico flexível, de parede
bem fina, termocontrátil. Como se fosse uma capa de revestimento plástico.
Enfia-se a ponta do cabo em um pedaço desta capa e esquenta-se com
um isqueiro até que ela se encolha (to shrink = encolher).
Encontra-se isso nas lojas de material elétrico/eletrônico (usado
p/formar feixes de fios). É muito prático mas não é
tão tradicional como uma falcaça.
É preciso gastar
um tempo pra fazer a falcaça bem feita. Mas fica bem bonito. A falcaça
deve ser feita com um cabinho (ou cordão) de diâmetro muito menor
do que o cabo a falcaçar.
Opção
3 - Você pretende ser velejador.
Siga a opção 1 e aprenda também o Nó Direito (para
emenda de cabos de igual diâmetro - é o nó mais básico),
a Volta do Fiel (para fixar a amarra a um poste, mas prefiro o Lais de Guia),
o Nó de Escota (p/emendar cabos de bitolas diferentes), o Nó
de Correr (aí abaixo chamado Movediço), a Volta do Fiador (conhecido
também por Nó 8, serve para fazer volume na ponta do cabo e
assim não deixá-lo escapar por um moitão, p. ex.).
E quanto
ao resto dos nós que mostramos aí abaixo?
Esqueça!...
Estão aí só pra quem olhar de relance achar que o popa.com.br
tem bastaaaaaaaante nós, como se imagina que um site náutico
deva ter.
Talvez haja mais um pra aprender bem: nó do sapato (tênis): já
vi gente tropicando no convés pela falta de um nó decente no
tênis.
Aprendizado
e Teste
Na fase de aprendizado tenha sempre um cabinho no bolso. Quando puder, treine.
Treine por várias semanas para ficar bem gravado, mesmo que tenha aprendido
todos logo no primeiro dia.
Use um cabinho de meio-metro,
com uns 3 ou 4mm de diâmetro. Depois é bom treinar com um de
8 ou 10mm também.
Para saber se Você
já aprendeu, de verdade, faça o nó de olhos fechados,
depois de 1 mês sem dar nó algum, enquanto presta atenção
em outra coisa.
Quando um nó é
necessário, via de regra tem que ser feito rapidamente, enquanto V.
pensa em outra coisa. Muitas vezes Você estará mal acomodado,
dependurado, com o barco balançando, à noite...
É bom testar em situações
"menos confortáveis", como se imaginando sua filha adolescente
lhe dizendo que vai morar no exterior já a partir do mês que
vem. Se não conseguir, insista. Com o nó. Quanto à sua
filha, pode desistir de negar, já "de cara".
E mais um detalhe: treine
os nós como se estivesse utilizando-os em um barco: o Lais de Guia
p.ex., deve ser treinado amarrando-se um cabo ao pé de uma cadeira,
como se fosse um poste no trapiche, ou passando o cabo através de uma
argola, como se ela fosse o ilhoz de uma vela.
Não se esqueça
de aprender a desfazer os nós também. E rapidamente.
Boa sorte!
E tem
ainda o nó de caminhoneiro, em duas versões. É mais
do que um nó, talvez uma amarra.
Na versão em P&B, o passo B é mais simples de fazer, de
início, mas difícil de desmanchar. Na versão em laranja,
a alça simples que substitui o nó do passo B em P&B, se
desmancha sozinha.
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O truque destes nós
é a multiplicação da força aplicada
pelo princípio das roldanas móveis (coisa que aprendemos
no Segundo Grau). Funciona como a talha usada em oficinas para levantar
motores.
Cada volta pelo olhal e seio
do cabo (em D aí acima) multiplica a força aplicada
por dois (2,4,8,16...). Mas
tem um detalhe: na talha existem roldanas para eliminar o atrito.
Dependendo do tipo de cabo utilizado, as múltiplas voltas
no nó geram tanto atrito contra o olhal e o seio que com
mais de duas pode ser impraticável tracionar.
Uma grande aplicação
do nó de caminhoneiro é para puxar algo muito pesado
para a força disponível. Se houver um ponto de apoio,
use este nó para multiplicar a força. Imagine retirar
d'água carreta & barco em uma rampa quando o carro não
consegue puxar (fica patinando). Um nó desses dividirá
o peso da carga a tracionar por dois.
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